
Nos últimos anos, temos assistido a avanços impressionantes na tecnologia aplicada à saúde. Hoje, relógios inteligentes monitorizam o sono, aplicações detetam arritmias e plataformas permitem consultas à distância. Mas na saúde mental, especialmente na Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA / TDAH), a adoção das terapias digitais ainda é limitada, e seu potencial permanece inexplorado na prática clínica.
A lacuna entre evidência científica e prática clínica
Apesar de, consistentemente, investigações científicas demonstrarem que intervenções digitais baseadas em treino cognitivo e apoiadas no princípio da neuroplasticidade (a capacidade do cérebro de se reorganizar e se adaptar ao longo da vida) produzem resultados positivos em pessoas com PHDA, melhorando funções executivas como atenção, memória de trabalho e regulação emocional, estas ferramentas continuam a não estarem integradas na prática clínica.
Este atraso contrasta fortemente com áreas como reabilitação física e recuperação de lesões cerebrais, que já começaram a integrar soluções digitais com grande sucesso.
Quando a medicação e a terapia tradicional não bastam
A medicação continua a ser eficaz para muitos pacientes com PHDA, mas nem todos respondem da mesma forma, e alguns experienciam efeitos secundários negativos significativos. A terapia comportamental e o acompanhamento psicológico são fundamentais, mas limitados por custos, disponibilidade do profissional e tempo.
Neste contexto, as terapias digitais surgem como uma alternativa não invasiva, escalável e personalizada, capaz de complementar e reforçar os métodos tradicionais, tornando o tratamento mais contínuo e adaptado à vida real do paciente.
O impacto humano das terapias digitais
O que torna esta nova geração de terapias tão promissora não é apenas a tecnologia em si, mas o que ela representa: autonomia. Pela primeira vez, as pessoas podem participar ativamente no seu processo terapêutico, com ferramentas acessíveis que cabem no bolso e se ajustam à sua rotina diária.
As terapias digitais não pretendem substituir profissionais de saúde, mas sim complementá-los, criando uma ponte entre o acompanhamento clínico e o dia a dia do paciente.
Propel: um novo caminho para o treino cognitivo na PHDA
Foi com essa visão que nasceu a Propel, uma plataforma de treino cognitivo co-desenhada por psicólogos e investigadores na área do PHDA.
A Propel ajuda os utilizadores a treinarem funções executivas como atenção, memória de trabalho, planeamento e autocontrolo através de jogos curtos, envolventes e adaptativos. Ao contrário das abordagens tradicionais, o treino não depende de motivação constante ou de longas sessões, uma vez que toda a experiência é pensada para ser motivadora e gratificante, promovendo progresso real e mensurável ao longo do tempo.
Além disso, foi desenhada com cuidado especial no bem-estar emocional do utilizador. Para que, além de todos os benefícios, a Propel também promova calma, foco e realização, elementos essenciais para quem vive com PHDA e, muitas vezes, enfrenta sentimentos de frustração ou baixa auto-estima.
A importância da adoção e do investimento
Adotar terapias digitais não é uma questão de moda, é uma necessidade. Num mundo em que o stress, a desatenção e o esgotamento aumentam a cada ano, faz pouco sentido que soluções tecnológicas com base científica fiquem por explorar, sem reconhecimento formal ou integração nas práticas clínicas.
Além da adoção, é igualmente crucial continuar a apoiar a investigação e o desenvolvimento, para que seja possível validar protocolos, testar novas abordagens, explorar diferentes aplicações da neuroplasticidade e criar soluções escaláveis que façam diferença para milhões de pessoas.
O caminho para o futuro
O futuro da saúde mental depende da nossa capacidade de aceitar, integrar e investir em novas abordagens. As terapias digitais não são apenas uma tendência: são ferramentas científicas, com impacto comprovado e potencial ainda por explorar.
Abraçar estas soluções agora significa transformar a vida de quem vive com PHDA e outras condições neurológicas. O futuro da saúde mental é digital e começa com a nossa decisão de adotar e apoiar estas ferramentas hoje.
João Silva


